A CATEGORIA “LIBERDADE” NO CURSO CONIMBRICENSE SOBRE A ÉTICA A NICÔMACO E A “EXPERIÊNCIA DE LIBERDADE” NAS INDIPETAE JESUÍTICAS (SÉCULOS XVI E XVII)

Resumo

Analisando um tipo específico de correspondência jesuítica – as Litterae Indipetae –, identificou-se um dinamismo de elaboração da experiência capaz de revelar um modus vivendi, fundado numa concepção do ser humano, à luz da fé cristã, própria dos membros da Companhia de Jesus. É a este vivido descrito nas cartas (com suas devidas implicações fundamentais) e à descrição filosófica do conceito “liberdade” contida no Curso Conimbricense sobre a Ética a Nicômaco, que se dedica este artigo, buscando responder à pergunta: em que medida esta categoria – “liberdade” – expressa a partir de topoi próprios do gênero de correspondência e da forma mentis dos jesuítas (num âmbito histórico cultural institucional peculiar) poderia interessar para a compreensão do dinamismo anímico dos seres humanos? Resulta desta investigação que a elaboração da experiência de “liberdade“, neste âmbito preciso, parte do pressuposto de que o homem é uma unidade (corpo e alma, razão e fé, sensação e intelecção) e de que, vivendo ordenado (em si mesmo e no mundo que o circunda), realiza o seu ser por analogia ao Ser Divino.

Abstract: By the analysis of a specific type of Jesuitical correspondence – the Litterae Indipetae – a dynamic of working-out of experience was identified, revealing a modus vivendi (way of living) based upon a Christian view of the human being, proper to the members of the Society of Jesus. This article explores the lived experience described in those letters (with its basic implications) and the description of the philosophical concept of “freedom” contained in the Conimbricenses Commentaries on the Nichomachean Ethics. We try to answer in which measure the category of “freedom” expressed in the topoi specific to this kind of letters and to the Jesuitical forma mentis (in a particular historical-cultural-institutional context) may be of interest for understanding the psychical dynamic of human beings. It results from this inquiry that the elaboration of the experience of “freedom” in this context, starts from the assumption that human beings are an unit (body and soul, reason and faith, sensation and intellection) and that, living in an orderly way (in themselves and in the surrounding world), they fulfill their aim in life conforming themselves to the Divine Being.