O ANDARILHO COMO EXPRESSÃO DE UM PENSAMENTO EXTERIOR: PARA UMA GEOFILOSOFIA EM NIETZSCHE
DOI:
https://doi.org/10.20911/21769389v52n162p115/2025Resumo
O presente artigo pretende analisar a hipótese de uma geofilosofia em Nietzsche a partir da figura do andarilho, compreendido como parte de uma estratégia de “pensamento exterior” que se efetiva como recusa do pensamento subjetivista e metafísico. Nietzsche desenvolve essa ideia especialmente em obras como Humano, Demasiado Humano e Assim Falou Zaratustra, onde o andarilho representa a liberdade de espírito, a pluralidade de perspectivas, a rejeição dos dogmas e a tarefa de criação de novos valores. Analisando algumas passagens desses textos, demonstraremos como a metáfora do andarilho simboliza um pensamento em constante movimento, que se nutre da paisagem, da impermanência e das experiências vividas nos diferentes territórios que formam as vivências do caminhante. Dessa forma, trata-se de demonstrar como a figura do andarilho se opõe ao sedentarismo do pensamento metafísico, fixado em verdades universais e inalteráveis. A geofilosofia (termo proposto por Deleuze e Guattari) enfatiza, assim, a conexão entre o pensamento e o ambiente exterior, contrapondo-se à interioridade da tradição racionalista da moral ocidental. Terminaremos por demonstrar como Zaratustra, o andarilho por excelência, encarna a coragem de criar e afirmar a vida em todas as suas contradições, movendo-se entre montanhas e mares, em busca de uma filosofia que dialogue com o mundo – que se faça em diálogo com a natureza e não em contraposição a ela, segundo o antropocentrismo vigente. Essa perspectiva culmina no grande meio-dia, símbolo da máxima clareza e liberdade do pensamento, que encontra suas primeiras formulações no aforismo final de Humano, Demasiado Humano, que servirá de fio condutor da presente reflexão.
Palavras-chave: Nietzsche. Geofilosofia. Andarilho. Pensamento exterior. Espírito livre. Zaratustra.