SENTIDO E TRANSCENDÊNCIA: ALGUMAS REFLEXÕES A PROPÓSITO DA CRÍTICA DE PIERRE-JEAN LABARRIÈRE AO HOMEM UNIDIMENSIONAL DE HERBERT MARCUSE

Resumo

Neste ensaio, revisitamos a análise que, em Dimensions pour l'homme: essai sur l'expérience du sens (1975), Pierre-Jean Labarrière fez do livro de Herbert Marcuse, One-Dimensional Man: Studies in the ideology of advanced industrial society (1964), para irmos construindo, num diálogo crítico com ambos os autores, a sugestão de um modo alternativo de pensar o binómio sentido/transcendência. O artigo encontra-se, por conseguinte, dividido em quatro momentos. No primeiro, introdutório, apontamos a actualidade do tema, bem como das duas perspectivas que escolhemos como interlocutoras. No segundo, expomos a concepção de Marcuse, relativamente à questão que nos ocupa, de tal forma que apareça, igualmente, o núcleo filosófico contra o qual se orienta o comentário de Labarrière. No terceiro, enquadramos essa polémica na coerência da posição do filósofo francês, patenteando, por sua vez, a existência de um mesmo fundo de inquietações, de cariz  etafísico, em grande parte, legado do hegelianismo, que ambos partilham. Por fim, no quarto, avançamos a ideia de uma versão mais centrada nas potencialidades de uma «racionalidade modesta», assente no aspecto construtivo da linguagem, que confira à categoria do sentido a função de articular, efectivamente, mundanidade, liberdade e transcendência.

Abstract: In this essay, we intend to re-visit the analysis that Pierre-Jean Labarrière did, in his Dimensions pour l'homme: essai sur l'expérience du sens (1975), of Herbert Marcuse's One-dimensional Man: Studies in the ideology of advanced industrial society (1964). Through a critical dialogue with both authors, we suggest an alternative way of thinking the relationship between meaning and transcendence. The article is divided in four parts. To start with, we argue that the topic is as timely as our two interlocutors. Then, we expose Marcuse's conception regarding our issue in such a way that the philosophical point Labarrière addresses in his comment becomes clear. Thirdly, we circumscribe the polemic within the French author's coherent stand, at the same time as we demonstrate the existence of a similar background of metaphysical concerns, which are mostly a Hegelian legacy, that both philosophers share. Finally, we venture the idea that a version, more centered on the potentialities of a “modest rationality” and based on the constructive aspect of language, can give to the category of meaning the function of articulating more effectively mundanity, liberty and transcendence.