Alimentar o corpo e a alma: O problema da unidade do ser humano no Concílio Vaticano II

Resumo

Ao longo da história da Teologia um dos temas mais desafiadores tem sido pensar a natureza do ser humano. Atualmente é exigido ainda, ao falar do assunto, uma fina sintonia com a Filosofia e as ciências modernas, o que torna a tarefa ainda mais árdua. Visto, porém, a importância do tema, o Magistério da Igreja não se privou de formular definições a respeito deste objeto. O Concílio Vaticano II funda seus documentos numa antropologia unitária e descreve um ser humano constituído por corpo e alma. Esta visão bipartida formulada por Tomás de Aquino traz consigo o desafio de tentar entender a natureza humana sem que se perca a ideia de unidade que a compreensão bíblica a respeito do ser humano legou à Tradição. Este trabalho tem por objetivo assinalar nos documentos do Vaticano II, através da categoria de “alimentos” para os corpos e as almas, se estes podem ser nutridos estando em íntima relação um com o outro. Para tal buscou-se nas constituições, declarações e decretos do Concílio Vaticano II os termos “alimento”, “corpo”, “alma” e “ser humano” (e seus termos correlatos), examinando quais são os elementos apontados que podem sustentar o corpo e a alma do ser humano. Verifica-se que, embora o Concílio busque apresentar uma visão não fragmentada do ser humano – o que se pode averiguar especialmente no tocante à salvação (GS 18) e no tocante à natureza humana (GS 14) –, ao trabalhar os temas particulares em cada documento conciliar são apresentados alguns “alimentos” capazes de nutrir o ser, mas que em sua maioria, alimentam somente a alma, o que corrobora a opinião sobre a dificuldade de falar do corpo e da alma mantendo sua relação de unidade. Retomar os textos do Magistério e relê-los à luz do presente torna-se imperativo se quisermos dar respostas atuais a este desafio sempre premente da unidade do ser humano.