A FUNÇÃO DO MÉTODO DE ANÁLISE NA CONSTITUIÇÃO DO ARGUMENTO DO COGITO NAS MEDITAÇÕES: UMA LEITURA DO COGITO VIA REDUCTIO AD ABSURDUM

Resumo

Considerando que o cogito possa ser tomado nas Meditações como a conclusão de uma demonstração, pode-se avançar a tese que essa demonstração está consoante ao método analítico, que Descartes reconhece empreender nesse texto. Esse método teria entre suas funções nas Meditações aquela de apresentar – sob a forma de uma rede de implicações ontológicas – o raciocínio que conduz à certeza da existência. Como cumpre no referido texto determinar a certeza da existência sem tomar como base nenhuma certeza preestabelecida, o método analítico forneceria, segundo nossa interpretação, uma reconstrução do argumento do cogito sob uma base indireta, mais precisamente através de uma reductio ad absurdum, cujo objetivo consiste em mostrar a contradição inelutável na tentativa de um indivíduo de provar a sua não existência.

Abstract: If, in the Meditations, the cogito can be taken as the conclusion of a demonstration, it is possible to advance the thesis that such a demonstration is developed according to the analytical method Descartes admitted having employed in his Meditations. Among its many functions, this method would have that of presenting – in the form of a network of ontological implications – the reasoning that brought the certainty of existence. When Descartes wrote the Meditations, he intended to prove the certainty of the self-existence without taking into account any previous certainty. Therefore, according to our understanding, the analytical method seems to be the only one that can respond to this exigency since it is able to reconstruct the argument of the cogito in an indirect way, namely through a reductio ad absurdum, of which the goal consists in showing the inevitable contradiction in the attempt to prove one's nonexistence.