Apresentação

A Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia – FAJE – promoverá, de 24 a 26 de setembro de 2014, o X Simpósio Internacional Filosófico Teológico, sobre o tema “Do humano ao pós-humano: encruzilhada ou destino”?

O ideal de domínio sobre as forças hostis da natureza guiou a atenção e os esforços do Ocidente nos últimos cinco séculos. No horizonte, entrevia-se a libertação do ser humano das forças que, desde a origem, o conduziam à adequação aos ritmos do mundo. Despontava, assim, a imagem do “senhor e mestre da natureza” que, em futuro ao alcance das mãos, viria dispor da realidade, para moldá-la segundo seu desígnio soberano. A razão, universal e autônoma, seria a grande artífice da civilização iluminada, a inaugurar a era do ser humano adulto e inteiramente responsável pela própria destinação. Um dos nomes conferidos a este elevado ideal, tomado em sentido amplo, foi “humanismo”.

No entanto, o olhar voltado para a exterioridade da matéria manipulável, ao deixar de lado o cultivo da vida interior, provocava, igualmente, crescente esquecimento da liberdade outrora perseguida. Tal esquecimento intensificou-se, quando o saber operacional das ciências se concentrou sobre o ser humano, inaugurando nova época nos ciclos da civilização. Delineava-se, desse modo, a estranha figura do homem reduzido a objeto de saber impessoal, constituído segundo as normas da ciência moderna. As diversas disciplinas, que passaram a se ocupar do fenômeno humano, produziram desarticulação e fragmentação de sua imagem. Em paralelo, a razão autônoma viu-se acusada de promover, em nome da própria “racionalidade”, os mais horrendos crimes, sobretudo, os perpetrados durante as grandes guerras e os conflitos de diversas naturezas do século XX. Esta situação complexa conduziu muitos pensadores a uma atitude “anti-humanista”, ou seja, crítica do humanismo otimista, que afirmava antever o caminho para a realização do Reino da Razão e de seus fins sobre a Terra. Desmascarava-se, assim, o ser humano, agora interpretado como condicionado, ambíguo e incapaz. E criticava-se o racionalismo, redutor da razão a seus aspectos operativos e pragmáticos.

Deparamo-nos, atualmente, com o discurso “pós-humanista”. Os que o defendem não parecem interessados em corrigir os desmandos da razão demasiado estreita. Não se trata, porém, de ampliar a visada da razão, de recordar o poder intuitivo do espírito humano, de abri-lo para o aquém e o além da consciência. Os “pós-humanistas” pretendem corrigir o próprio homem, submetê-lo a melhoramentos tecnológicos sucessivos, capazes de controlar emoções, ciclos da vida, duração da existência e mesmo, quem sabe, as grandes questões que sempre nos ocuparam. Consideram a convivência social e a vida política como lugar de aplicação de novas engenharias, a fim de regular a convivência entre os povos, de modo, enfim, eficaz.
Consciente desta situação complexa, a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, por meio da Comissão Organizadora do X Simpósio Internacional Filosófico teológico, convida a Comunidade Acadêmica a refletir, com a ajuda de grandes especialistas, sobre o lugar e o futuro do ser humano, numa época que se anuncia “pós-humana”.

Três séries de abordagens nos guiarão em nossos estudos:

a) Explicitação das raízes históricas deste complexo ideário pós-humanista, que é hoje agitado em tantos meios, sem a devida reflexão crítica.

b) Análise das questões da crise de sentido que hoje nos interpela, e que se articula em torno dos seguintes eixos: primeiramente, o que concerne à vigência da mentalidade técnico-científica e a seus impactos inegáveis sobre a imagem do ser humano, que abalam o campo da cultura em seus pilares morais, estéticos e religiosos; em seguida, as decorrências éticas-políticas de tais impactos. Quando a vida em sociedade vê-se interpretada como jogo de coerções sociais, e promove-se a busca de uma “regulamentação” de bases científicas, a vida política transforma-se em simples gestão da espécie; por fim, as repercussões jurídicas, concernindo aos direitos humanos e pós-humanos, com consequências graves para a organização da vida social.

c) Do presente ao futuro, duas perspectivas complementares, uma prospectiva e outra ética, organizarão nossas discussões. De um lado, o que esperar da situação que hoje trama o tecido cultural de nossas sociedades? Colheremos, no final, negação da liberdade, automação da vida e, portanto, negação da imagem cristã da humanidade? De outro lado, impõe-se um tratamento filosófico teológico, com auxílio interdisciplinar, da questão ética: que mundo desejamos legar às futuras gerações e que atitudes devemos promover para que esta realidade advenha?
As atividades do Simpósio se articularão em torno dos eixos suprarreferidos. Três grandes conferências, destinadas ao conjunto dos participantes, colocarão as balizas da reflexão. Um conjunto de seminários monotemáticos, versando sobre aspectos do tema em foco, será oferecido a pequenos grupos, para aprofundar-lhe as muitas vertentes. As comunicações oferecerão aos pesquisadores e aos pensadores compartilhar o resultado de seus trabalhos, como contribuição para enriquecer a reflexão. Uma programação detalhada será, oportunamente, divulgada.

Comissão Organizadora