A poesia como herança genética em Primo Levi

Autores

  • Breno Fonseca Rodrigues

Resumo

O escritor judeu-italiano Primo Levi (1919-1987), químico por formação, é reconhecido mundialmente pela sua narrativa sobre os horrores da Shoah. Na apresentação de seu livro Ad ora incerta, o autor sugere que a poesia está inscrita em nossa herança genética. Ele afirma ter cedido a uma pressão intrínseca, a um impulso instintivo, de se expressar por versos. Isso porque, “em momentos incertos”, o poema lhe parecia mais apropriado do que a prosa para transmitir uma ideia ou imagem. Segundo o crítico Cesare Segre (1928-2014), a melhor premissa para ler os poemas de Levi encontra-se em uma frase de Se não agora quando?, em que um personagem afirma: “Também eu tenho sangue de profeta, como todo filho de Israel, e de vez em quando brinco de bancar o profeta” (1999, p. 137). Para Segre, um tom profético, de exortação, permeia a escrita poética do escritor, marcada pela onipresença do sofrimento. Em É isto um homem?, livro em que Levi narra os horrores do campo de concentração, há um poema homônimo que nos remete ao Shemá – oração judaica de profissão do monoteísmo. No poema, o eu-lírico exorta o leitor a não se esquecer do testemunho do sobrevivente, conferindo a ele o mandamento de resguardar a memória da Shoah. A presente comunicação tem por objetivo refletir sobre a matéria de composição do trabalho poético de Levi, a partir de uma investigação crítica de Mil Sóis – livro que reúne alguns de seus poemas, publicado no Brasil pela Editora Todavia, em 2019. Para alcançar o objetivo, dispõe-se de uma metodologia exclusivamente bibliográfica, partindo de uma leitura pormenorizada dos poemas do escritor, e de uma seleção de seus escritos ensaísticos e autobiográficos. Busca-se compreender a ideia central de uma poesia instintiva e necessária, refletindo sobre as estratégias de criação estética empreendidas pelo escritor. Assim, abordagens teóricas de Walter Benjamin (1892-1940), Giorgio Agamben (1942) e Georges Didi-Huberman (1953) servirão de lentes para a análise do tema. Pretende-se discutir a poesia de Levi fundamentada em sua experiência-limite, como prisioneiro em Auschwitz, e de sua formação científica e filosófica, especialmente, de suas meditações extraídas da Bíblia e da literatura.

Downloads

Publicado

2019-11-26

Como Citar

Rodrigues, B. F. (2019). A poesia como herança genética em Primo Levi. Annales Faje, 4(3), 38–48. Recuperado de https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/view/4313