Retomando o caminho de Medellín: Dom José Maria Pires: 50 anos de história

Autores

  • Mauro Passos

Resumo

Esta comunicação analisa a trajetória de Dom José Maria Pires na Arquidiocese da Paraíba (1965-1995), as iniciativas pastorais, sociais e culturais e sua conexão com o movimento do catolicismo brasileiro pelo seu aggiornamento, em prol das mudanças sociais e políticas e a construção de uma Igreja dos Pobres. A novidade dessa trajetória pastoral vem expressa nos termos “iniciativas”, “participação” e “construção”. O caminho trilhado para este artigo constou de pesquisa documental de fonte primária, depoimentos orais, artigos de jornal, boletins da Arquidiocese da Paraíba, relatórios e livros. O contato com personagens que conviveram com o arcebispo, neste período, transformou as fontes com os depoimentos, em memória viva. Através de uma nova prática, comprometida com o processo de luta pela justiça, pelos direitos fundamentais dos pobres, contra um sistema excludente e autoritário, a própria consciência do Ser Igreja foi-se modificando. Assim, a Palavra de Deus torna-se luz para entender essa história. Os diversos documentos desse pastor registram essa prática pastoral nos meios urbano e rural, que foi sendo assumida e incrementada na Arquidiocese da Paraíba. Fazem parte desse quadro os problemas, as dificuldades e silêncios de alguns grupos e movimentos religiosos, e divergências e conflitos. Dom José soube trabalhar com os elementos da tradição e os olhos no futuro. Com isso, a mediação das relações não se dava somente em nível institucional, como nos períodos anteriores, mas na própria realidade social, nas comunidades, nos grupos, nas pastorais, nas manifestações religiosas populares e no jeito de ser Igreja. Uma característica marcante da pastoral arquidiocesana foi buscar caminhos mais sintonizados com os desafios da realidade nordestina e paraibana. No vínculo da práxis pastoral com a justiça social, a participação do arcebispo na II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín, em 1968, foi muito significativa. Num momento singular da história brasileira, sua preocupação estava direcionada para a construção de um mundo mais humano, onde todos encontrassem melhores condições de vida. Resgatar o humano, para edificar uma sociedade mais justa, implica captar formas de ação que ofereçam bases para um mundo diferente. É importante verificar o que isso quer dizer para a situação brasileira, ainda hoje, como também para a Igreja Católica (Em vários aspectos há, hoje, uma involução da Igreja e uma volta aos movimentos tradicionais e conservadores!). O Concílio Vaticano II, a Conferência de Medellín e as Diretrizes Pastorais da Igreja no Brasil eram o caminho a ser percorrido. Um marco histórico, espelhado no Evangelho, que muito influenciou a Ação Pastoral na Arquidiocese da Paraíba foi também o Pacto das Catacumbas. Foi uma expressão pública e o compromisso de um grupo de bispos do Concílio Vaticano II com uma Igreja servidora dos pobres e empenhada na luta por fraternidade e justiça.  Dom José Maria Pires fazia parte desse grupo e se empenhou nessa causa em Medellín e depois em Puebla. Esses eventos, particularmente, foram canteiros de obras para o trabalho pastoral e o futuro foi sua construção. O trabalho desenvolvido, as novas pastorais e as formas de organização não tiveram um resultado imediato. Uma mudança é semelhante à infiltração de água – lenta e persistente. Assim foi possível transformar as constituições, decretos, compromissos e experiências em obras e fatos. Os jogos dos passos moldam espaços. Tecem lugares. (Michel de Certeau).

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Publicado

2018-12-27

Como Citar

Passos, M. (2018). Retomando o caminho de Medellín: Dom José Maria Pires: 50 anos de história. Annales Faje, 3(5), 21. Recuperado de https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/view/4112