O projeto político como corolário de uma hermenêutica da modernidade: Uma aproximação do pensamento de Henrique Cláudio de Lima Vaz

Resumo

O escopo da comunicação aqui proposta consiste em explicitar as relações substantivas existentes entre a conceptualização limavaziana da modernidade e o projeto político do autor para uma sociedade democrática. Tendo em vista a consecução deste objetivo, a exposição estará estrutura em dois momentos argumentativos, a saber: (1) a hermenêutica limavaziana da modernidade; (2) modernidade & política. O primeiro momento, intentando traçar um quadro elementar para a compreensão dos elementos constitutivos que integram a reflexão pela qual Lima Vaz torna inteligível o universo simbólico do seu tempo, encontra-se subdividido em cinco tópicos: (1.1) os traços característicos; (1.2) a gênese histórica; (1.3) a chave hermenêutica; (1.4) as figuras do homem moderno; (1.5) as decorrências: o niilismo ético e o niilismo metafísico. O estágio subsequente possui como finalidade central demonstrar as relações entre os traços delineados na seção precedente para com a agenda política limavaziana. Este último estando estruturado em duas subseções: (2.1) o tríplice estágio lógico da sociedade; (2.2) o ideal democrático no horizonte histórico da modernidade. O ciclo civilizatório ao qual denominamos modernidade encontra o seu início com uma nova prática racional a partir do século XVII, o que caracterizará a originalidade da Revolução científica. Assim, não obstante todos os problemas e divergências que traz a deliberação de um paradigma heurístico e hermenêutico capaz de ser afirmado como fonte de novos problemas e de novas interpretações, o que é clarividente no campo historiográfico, pode afirmar-se que é com Descartes e Hobbes, na filosofia, e Galileu Galilei, na ciência, que se instaura definitivamente um ponto de inflexão na história simbólica do ocidente. Esta passagem se manifesta, sobretudo, na passagem de um paradigma vitalista a um mecanicismo de predominância físico-matemática. No entanto, as raízes mais profundas da modernidade encontram-se na entrada das obras aristotélicas no mundo latino, na afirmação da radical inteligibilidade da existência no século XIII e com a rejeição no século posterior de uma concepção unívoca do ser. Para Lima Vaz, a experiência democrática compreende a manifestação da ordem mais elevada na organização da sociedade política. Esta constatação não é tomada pelo autor como um a priori, mas justifica-se em razão de ser a ideia reguladora ou por estar a mesma a “enfaixar o universo conceptual do político na sua verdade mais profunda”. A gênese na organização da sociedade política reside em sua capacidade de dissociar a vinculação primária do poder e a força ou a violência e atinge seu nível mais elevado com a liberdade de participação nas deliberações e discussões. Assim, a democracia como ideia matriz revela-se no plano político como paradigma mais adequado na efetivação da essência ética do sujeito, i. é, na atualização de sua liberdade e racionalidade. Ora, a concreção histórica deste modelo político na urdidura das situações efetivas é justamente o que a presente comunicação pretende explorar a partir da reflexão limavaziana. A inquirição, adotando a metodologia bibliográfico-documental, deve considerar de modo primário os escritos Ética e cultura; Filosofia e cultura; Ética e direito; Mística e política; Ética, direito e justiça; Democracia e sociedade. A exposição deve conduzir à conclusão de que a radicalidade na superação das estruturas políticas hodiernas na proposta política do filósofo em questão está imediatamente associada com o nível crítico que o mesmo assume em relação à modernidade.