O pensamento do Corpo na Antropologia filosófica de Lima Vaz

Autores

  • Nilo Ribeiro Júnior
  • Gabriel Gonzalez Rungue

Resumo

Nosso trabalho visa a colocar em evidência a centralidade do corpo (próprio) na Antropologia Filosófica de Lima Vaz, seja porque o corpo é evocado em seus escritos dando margem para pensá-lo como ponto zero da existência humana no mundo, seja porque o corpo aparece como categoria estruturante de seu pensamento filosófico. Eis que do ponto de vista ontológico, a novidade do “pensamento encarnado” de Lima Vaz o torna capaz de enriquecer o debate sobre a unidade do ser humano na medida em que sua antropologia se insere na história da tradição filosófica ocidental como uma das correntes bem-sucedidas de abandono das dicotomias e dos dilemas filosóficos em torno do corpo ao reafirmar o ser-no-mundo aberto à transcendência. Do ponto de vista epistemológico, o pensamento vaziano emerge como instância crítica à filosofia de corte reflexivo-analítico-idealista contemporânea naquilo que lhe resta de dualismo e que, de maneira sutil, a faz conceber o corpo, a alma e o espírito em ampla concorrência. Em função da fecundidade da Antropologia Filosófica do filósofo brasileiro, pretende-se indagar se e como os novos rumos da Fenomenologia na sua vertente francesa exerceu impacto sobre a elaboração da reflexão filosófica vaziana sobre o homem. Sem negar, evidentemente, o caráter unitário-tricotômico de sua Antropologia, procurar-se-á estabelecer uma interface entre sua reflexão filosófica e aquela do filósofo francês Merleau-Ponty em torno do corpo próprio. Com base a esse argumento, trata-se, de um lado, de focar nossa exposição em alguns pontos de contato entre o pensamento de ambos, e de outro, em analisar aqueles “nós” ou incongruências que nos levam a inquirir sobre o distanciamento entre suas visões antropológicas. Tendo em vista este fim, nosso trabalho seguirá dois momentos. No primeiro passo da reflexão, levaremos em conta o fato de esses dois filósofos enaltecerem o corpo como topos/tropos, isto é, como lugar/linguagem do filosofar, bem como apontar para as consequências existenciais e ontológicas que daí decorrem. Desse modo, o problema da encarnação se apresenta como terreno que os aproxima uma vez que se dedicam a pensar a humanidade do homem inserida no “mundo da vida” ou no âmbito do que Husserl denominava de (pré) compreensão (VAZ, 1991, p. 158). Por outro lado, os respectivos métodos filosóficos os colocam em posições diversas, o que nos leva a admitir a necessidade de matizar suas posturas a fim de que não se erijam, do ponto de vista antropológico, como visões antagônicas. Em função disso, no segundo passo, nos dedicaremos à inquirição quanto às diferenças nas respectivas antropologias com o intuito de estabelecer o diálogo entre os dois autores. Do lado do filósofo brasileiro, sobressai a preocupação epistemológica da Antropologia influenciada pelo método analítico-dialético-transcendental, na qual se insere a questão filosófica do corpo próprio. A suprassunção do corpo próprio na categoria de psiquismo (Consciência) constitui a estrutura psicossomática do homem. Essa estrutura, por sua vez, é suprassumida na categoria de espírito (noético pneumático) constituindo a unidade estrutural do humano. Não obstante, Merleau-Ponty descobre o profícuo caminho da fenomenologia da percepção ao mesmo tempo em que se depara com seus limites. Em função de assegurar a unidade entre corpo e espírito, sua reflexão o conduz a radicalizar sua abordagem em função da carnalidade do mundo. Em seguida, seu pensamento encarnado desemboca em uma ontologia da negatividade. Por fim, tendo clareza quanto ao objetivo deste trabalho podemos, pois, definir a sequência de seu desenvolvimento. Tendo em vista a pretensão de apresentar o corpo próprio como ponto de contato entre os dois autores, nosso primeiro passo terá dois momentos. Na primeira parte, apresentaremos a categoria de corpo próprio na antropologia vaziana. Na segunda parte, trataremos do corpo próprio desde a perspectiva da fenomenologia de Merleau-Ponty. Já no segundo e último momento, levantaremos algumas questões em torno do corpo próprio frente à especificidade (fruto das diferentes metodologias) que o caracteriza desde os diferentes modos de abordagem.

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Publicado

2018-12-20

Como Citar

Júnior, N. R., & Rungue, G. G. (2018). O pensamento do Corpo na Antropologia filosófica de Lima Vaz. Annales Faje, 3(4), 95. Recuperado de https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/view/4081