A questão ontológica da intersubjetividade e o conceito de comunidade segundo Lima Vaz

Autores

  • Daniel Carreiro Miranda

Resumo

O presente artigo pretende em linhas gerais e de forma não exaustiva elucidar o conceito de comunidade segundo o pensamento do filósofo Lima Vaz. Trata-se de uma reflexão ontológica acerca da intersubjetividade, enquanto um aceno constitutivo do ser humano, enquanto ser-com-os-outros. Destarte demonstraremos como a racionalidade, por meio da dialética do reconhecimento estabelece uma reflexão filosófica sobre a eticidade social, conceito este tão importante para a democracia e sociedade. O trabalho seguirá desvelado por duas temáticas. A primeira consiste na Ideia de comunidade, posteriormente trataremos sobre a dialética do reconhecimento, apresentando assim, a interação por meio do ser-em-comum que desvela-se enquanto experiência comunitária. Segundo o filósofo, o sentido da vida comunitária sedimenta-se na relação de reciprocidade que corresponde à estrutura dialética da liberdade. Por meio da dialética do reconhecimento temos a progressão imanente da liberdade, por meio da dinâmica do conceito que particulariza o universal, dissolve-o e afirma-o na singularidade concreta da vida comunitária, que se apresenta em seu movimento triádico: universalidade, particularidade e singularidade. Este movimento dialético que constitui a categoria intersubjetiva do existir em comum é designado por Lima Vaz como sendo a universalidade nomotética. A universalidade nomotética tem como fundamento uma ordem do mundo que supõe manifesta e na qual o nómos ou a lei da cidade é o modo de vida do homem que reflete a ordem cósmica contemplada pela razão. Desta sorte, Lima Vaz elabora sua categoria da Intersubjetividade, tentando superar as formas precárias de um reconhecimento não pleno, ou não efetivo, baseadas na razão instrumental, que se reduzem nos critérios do útil, do eficaz, do produtivo, do consumo, numa palavra, na absolutização da práxis; por outro lado, tentando superar o solipsismo. Lima Vaz, semelhantemente a Hegel, busca um roteiro de saída para além do círculo estreito da lógica social subjetiva e pensa uma forma de sociedade em que a dominação, que é a forma da violência e do absurdo, ceda lugar ao reconhecimento e ao consenso, que é a forma da razão e da liberdade. A comunidade existe na medida em que ela, de alguma maneira, existe na consciência dos sujeitos, uma vez que eles não vivem isoladamente, mas em comunhão. Tal forma de viver a liberdade requer a constituição de uma sociedade política instituída segundo o Direito, que efetive concretamente a liberdade e supere a agressão natural entre os homens. Para tanto, o projeto político de uma sociedade justa, como expressão da consciência política dos cidadãos ou como espaço de realização humana dos indivíduos na comunidade, refere-se necessariamente às exigências éticas dos sujeitos. Com efeito, a sociedade para ser humana tem que transcender os interesses particulares e criar espaços para que os homens sejam consensualmente iguais.

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Publicado

2018-12-20

Como Citar

Miranda, D. C. (2018). A questão ontológica da intersubjetividade e o conceito de comunidade segundo Lima Vaz. Annales Faje, 3(4), 83. Recuperado de https://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/annales/article/view/4080