Suspensões da “história”: Do Maio de 68 ao Caracazo em 89
Resumo
O Maio de 68 será tido como um ponto de emergência intempestivo e inesperado que quebrará as tendências da continuidade histórica e política e conseguirá desafiar e até ultrapassar os dispositivos da modernidade burguesa da França do pós-guerra. Será, não à toa, a ratificação concreta do que alguns autores da literatura teórica nomearam acontecimento. No imaginário coletivo venezuelano, o Caracazo significará a emergência espontânea e imprevista cuja irrupção quebrará a ordem social e política da institucionalidade democrática representativa da Venezuela e trará à tona forças, sujeitos e possibilidades ocultos e subterrâneos. Mas, o que tem a ver o Maio de 68 com o Caracazo, um episódio acontecido na Venezuela em 1989, um ano invadido pelo espírito das resignações e desesperanças? Porque bisbilhotar em dois episódios distantes tanto em tempo quanto em espaço? O que eles têm em comum que os faz susceptíveis de serem associados? Embora seus contextos espaciais, temporais e históricos sejam diferentes, o Maio e o Caracazo compartilham o feito de serem irrupções imprevisíveis que suspenderam a “história” e abriram um campo de possíveis não reconhecidos nem prefigurados por esta. A reflexão que trago hoje para vocês, e cujo alcanço é apenas exploratório, procura identificar, tanto em Maio quanto no Caracazo, os traços que os situam como acontecimento, suas semelhanças e suas peculiaridades e o que esta aproximação pode desvelar no que respeita aos limites e potencialidades do acontecimento entanto que abertura emancipatória. Esta aproximação tomará como eixos os seguintes aspectos: as premissas destes episódios como suspensões da “história”, os sujeitos que emergiram neles e as formas concretas da suspensão.
