APRESENTAÇÃO

Em busca do Bem Comum: um desafio para todos nós

Celebrou-se na primavera de 2017, entre os dias 04 e 06 de outubro, o XIII Simpósio Internacional Filosófico-Teológico da FAJE, com o tema “Em Busca do Bem Comum: Política e Economia nas Sociedades Contemporâneas”. Apraz-me oferecer à Comunidade Acadêmica brasileira os Anais das conferências deste tradicional evento, que todos os anos reúne centenas de professores, investigadores e membros da sociedade em geral, para refletir e iluminar o essencial de nosso tempo, numa visão histórica, interdisciplinar e sistemática.

Contrariamente aos que pensam ser o Bem Comum um conceito totalitário, a partir do qual se deduziriam as diversas implicações para a vida social, esmagando as diferenças entre as comunidades e culturas, o conceito de Bem Comum, em suas raízes históricas e em seu desenvolvimento histórico-sistemático, supõe e promove as sociedades concretas. O “comum” é aqui sinônimo de comunidade e oposição à Solidão que nos tenta sem cessar, tentação promovida pelas ondas de violência e insegurança que se elevam ameaçadoras e se espraiam com frequência em nossos campos e cidades. Em realidade, aceitar a solidão, promovendo a hipertrofia do indivíduo e a epifania do ego desenraizado, corresponde a destruir a via única que conduz à superação e à justiça. Sem “comunidade” não há “bem”. E por isso a riqueza das diversas etnias e povos da terra é o tesouro simbólico a ser conceitualmente explorado a cada crise que nos afeta.

A história do pensamento ocidental, lenta e tateante, abriu círculos cada vez mais abrangentes para afirmar a dignidade infinita do ser humano, a partir das equivalências espantosas de experiência e simbolização ocorridas no núcleo religioso judaico-cristão e no pensamento filosófico antigo. Assim, cada ampliação do conceito de Bem Comum chama e inspira formas de justiça mais avançadas e desafiantes. Heróis do pensamento e da prática rompem círculos ético-políticos estreitos demais e transfiguram a ação humana. É assim, por exemplo, que podemos compreender o processo inacabado em que os “bens da comunidade”, incluindo também os bens simbólicos e artísticos, em conjunto com os bens materiais, econômicos e ético-políticos, passam a enlaçar-se com um ideal de “comunidade dos bens” por meio de regras de justiça iluminadas pela afirmação da dignidade, não do indivíduo, mas da pessoa em sociedade. Compreende-se hoje, aliás, com uma sofisticação conceitual elevada e uma prática pedagógica e terapêutica instigantes, que nos humanizamos nas relações com os demais e nos desumanizamos na mercantilização e na transformação de nossos semelhantes em objetos de usufruto. Os “bens da comunidade” ordenados por ideais históricos de “comunidade dos bens” desembocam na perspectiva ainda mais abrangente da Comunhão, pois uma comunidade somente existe historicamente se é capaz de articular-se visando à ação comum e se, em seu seio, cada membro se compreende – eis o dado que se tornou primordial – como pertencente à comunidade dos homens e mulheres, que o antecederam e com ele avançam rumo ao Bem Comum.

Eis os pontos fundamentais da reflexão e aprofundamento que, a partir das perspectivas Filosófica, Teológica e das diversas Ciências que compõem o campo das Humanidades, o XIII Simpósio Internacional da FAJE vem oferecer à comunidade acadêmica nacional. Não basta constatar a violência e suas formas de mutação quase incontrolável. É preciso propor novos caminhos. Estamos seguros de haver contribuído nesse sentido.

Dr. Álvaro Mendonça Pimentel sj
Editor